quinta-feira, 14 de março de 2013

Vinhos by Ricardo Carvalho


Eu e a Iza começamos a nossa aventura no mundo dos vinhos quase sem perceber, sem planejar. Um dia gostamos de um Malbec em um jantar de trabalho, olhamos o rótulo e gravamos na memória: Terrazas de los Andes, Malbec, 2004. A partir daí, tivemos curiosidade de conhecer mais, de procurar algum outro vinho que fosse tão bom quanto ele. A seção do supermercado que antes não dávamos muita bola, em que apenas escolhíamos alguma garrafa por acaso, se tornou ponto de parada. Países, rótulos, tipos de uva, safras, preços... tudo isso começou a chamar nossa atenção. Conhecemos a uva carménère (curiosa acentuação) do Chile. Uma uva que tem sabor de terra, de raiz. Tomávamos o Santa Helena Reservado, um super hit de supermercado que deve vender mais que carro Gol. A partir daí não paramos mais de explorar.

Rapidamente a Iza se apaixonou pelos Syrah (ou Shiraz), pelo sabor de frutas, de compota, como ela sempre frisa! Nosso gosto se concentrou mais nos vinhos sul-americanos, australianos, sul-africanos. No Novo-Mundo. São mais escuros, mais densos. É claro, não se pode comparar um vinho de R$50 argentino com outro de R$50 francês, ambos comprados no Brasil. O poder de compra no Brasil é maior para vinhos de países vizinhos, pois os europeus chegam muito caro aqui e os melhores, na sua maioria, custam muito mais caro que equivalentes da nossa região. Eu logo me tornei fã do Malbec argentino. Gosto muito de carne, e eles combinam bastante com carnes, mas muitas vezes eu também gosto do vinho sozinho.

Em certo momento, começamos a fazer um diário dos vinhos que tomamos. Colávamos o rótulo numa página, e escrevíamos o que havíamos achado do vinho, com quem tomamos, o que comemos, como foi nosso dia, em que época estávamos... É de fato um material bastante divertido, principalmente quando escrevíamos no final das garrafas. Alguém que se dedique profundamente a um diário de vinhos pode também se dedicar a iniciar um diário de analgésicos para o dia seguinte! Os vinhos também se tornaram parte das nossas viagens. Fomos para Mendoza, visitamos várias vinícolas, ficamos hospedados em uma vinícola pequena, com apenas dois quartos e vista para o parreiral e os Andes. Foi uma das melhores segundas-feiras das nossas vidas, andando de bicicleta pelas parreiras, com chapéu de agricultor, provando azeitona direto do pé, e descobrindo o quão amarga ela é assim! Fomos para a África do Sul, em Franschhoek, perto de Cape Town. Fizemos um wine tour, e ficamos encantados com a pequena vila francesa, com os restaurantes, com as vinícolas. É impressionante como numa vinícola tudo é perfeito. As pedras, os jardins, a limpeza. As salas de degustação, os móveis de madeira, é tudo muito encantador. Também visitamos a Villa Francioni, em Santa Catarina, perto da Serra do Rio do Rastro. Acredito que um dia ainda iremos para Napa, na Califórnia, e para a Austrália.

Não gostamos muito de frescura para descrever vinhos. Na maior parte das vezes, achamos que os rótulos forçam a barra tentando descrever algo que é tão sutil, tão singular de pessoa para pessoa. Ou gostamos, ou não gostamos. Costumamos dizer: ou é lista, ou não é lista. Também percebemos que nem todo vinho caro é bom, que é maravilhoso descobrir vinhos bons e baratos, mas que também os vinhos muito bons, mais finos, tendem a ser caros, e há que se respeitar isso. O ideal é começar com uma faixa de preço confortável, em que é possível conhecer inúmeros vinhos bons (hoje em dia essa faixa é entre R$50 e R$60 em São Paulo), e depois experimentar uma faixa acima, e julgar se há melhores opções ou não. Finalmente, um mesmo vinho, da mesma uva e safra, pode ser bom em um dia e não ser tão bom no outro. É como o humor. De vez em quando não estamos nos nossos melhores dias, e com os vinhos também é assim: as experiências nunca são iguais. Por fim, vou listar algum dos melhores vinhos da nossa lista, vinhos que se provaram bons diversas vezes, em diversas safras. Vinhos que se tornaram a prova de erros pra nós. Espero que gostem!

P.S.: a lista um dia parou de ser escrita. Eu quis me sentir livre novamente para tomar um vinho e não ter que anotar os dados para escrever depois. Ela cumpriu seu papel de aprendizado, de descoberta, de criar uma boa base de vinícolas, países e uvas na nossa memória.

Aos campeões da nossa lista:

TINTOS

CATENA – MALBEC – ARGENTINA
CATENA ALTA – MALBEC – ARGENTINA
ALTOS LAS HORMIGAS – MALBEC – ARGENTINA
TOMERO – MALBEC – ARGENTINA
D. V. CATENA – MALBEC – MALBEC – ARGENTINA
DOÑA PAULA ESTATE – MALBEC – ARGENTINA
ALAMOS – MALBEC – ARGENTINA
MONTES ALPHA – SYRAH – CHILE
CARMEN RESERVA – SYRAH – CHILE
CORTES DE CIMA – SYRAH – PORTUGAL
D. V. CATENA – SYRAH – ARGENTINA
AMAYNA – SYRAH – CHILE
SCHILD ESTATE PREMIUM – SHIRAZ – AUSTRÁLIA
THE FOOTBOLT – SHIRAZ – AUSTRÁLIA
HORSE HEAVEN HILLS – SYRAH – ESTADOS UNIDOS
TOMERO – CABERNET SAUVIGNON – ARGENTINA
SCHILD ESTATE PREMIUM – CABERNET SAUVIGNON - AUSTRÁLIA
CATENA – CABERNET SAUVIGNON – ARGENTINA
H3 HORSE HEAVEN HILLS – CABERNET SAUVIGNON – ESTADOS UNIDOS
BARISTA – PINOTAGE – ÁFRICA DO SUL
MONT ROCHELLE – ANNO 1715 – MERLOT – ÁFRICA DO SUL
THE WOLFTRAP – CORTE (várias uvas tintas) – ÁFRICA DO SUL
PEQUENO PINTOR – CORTE – PORTUGAL

BRANCOS

ALAMOS – CHARDONNAY – ARGENTINA
VILLA FRANCIONI LOTE II – CHARDONNAY – BRASIL
CATENA ALTA – CHARDONNAY – ARGENTINA
CATENA – CHARDONNAY – ARGENTINA
PORCUPINE – SAUVIGNON BLANC – ÁFRICA DO SUL



Vista do nosso quarto na Vinícola/Pousada Vistalba, Mendoza

Vinícola Catena Zapata, Mendoza, Argentina

Vinícola Mont Rochelle, Franschhoek, Africa do Sul

Vinícola Boekenhoutskloof, Franschhoek, África do Sul


Vinícola Villa Francioni, São Joaquim, Santa Catarina
Sala de degustação da Vinícola Villa Francioni

2 comentários:

  1. Fantástico e delicioso esse post!!! Lembro muito bem das risadas que demos em BC lendo a lista de vinhos!!! Obrigada Rica por tornar essa lista pública. Já sei onde procurar um bom vinho quando precisar! Um brinde a vida e a nós!!!

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  2. Mandou muito bem, Jica, que belo texto,... é muito clara a percepção da sua paixão pelo assunto. As palavras deixam um leve gostinho de vinho na boca de quem lê! heheeheh Os leitores agradecem o compartilhamento da lista, obrigada! Beijos ao casal

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