quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Ode à mulher de 30 anos (Adriano Silva)






Olá leitoras! (ainda tem alguém aí?!) O blog Feliz nos 30 passou alguns meses hibernando, mas está de volta. Nesses últimos meses desde o último post, estive num ritmo frenético (mas delicioso) tanto profissional como pessoal: viajei muito a trabalho pelo Brasil, aprendi muito (e até palestrei!), descobri novos hobbies, participei de novo como júri do Prêmio Paladar do Estadão (até entrevista pro TV Estadão eu dei!), minha carreira profissional tomou rumos inimagináveis e muito legais, viajei de novo desta vez pela Europa e voltei cheia de idéias e com muita vontade de continuar escrevendo aqui.


Nessas minhas andanças durante esse período sabático, me deparei por coincidência com esse texto maravilhoso sobre as mulheres de 30, tema que deu origem a este singelo blog! O autor deste texto é Adriano Silva e foi publicado há muitos anos em uma revista feminina e até virou spam. Pode ser que já até o conheça, mas achei que valeria muito a pena ser compartilhado aqui no blog, já que tem tudo a ver com o sentimento de plenitude de estar nessa idade tão incrível! Com vocês, Ode à mulher de 30 anos:




Permita-me, leitora, vir a este proscênio, que é um lugar que, sei, não me pertence, afirmar de fronte alta: uma mulher é muito mais mulher aos 30 anos. Eis o que quero dizer: tome a mesma moça aos 20 anos e aos 30. No segundo momento, ela será talvez umas sete ou oito vezes mais interessante, mais sedutora, mais irresistível do que no primeiro.
Ela perderá o frescor juvenil, é verdade. E o ar inseguro de quem ainda não sabe direito o que quer da vida, de si própria, de um homem. E talvez não possa mais sustentar o ar ingênuo, toda a sensual inocência de que finge ser feita quando é jovenzinha. Essas, entre outras, são de fato características sexy da mulher de 20 anos que se perdem pelo caminho. Só que elas são amplamente compensadas pelos atributos encantadores de que se reveste a mulher de 30.
Aos 30 anos, a mulher se conhece mais e é por isso muito mais autêntica, centrada, certeira - no trato consigo mesma e na relação com o seu homem. Aos 30, a mulher tem uma relação mais saudável com seu corpo. Tem orgulho da sua vagina, das suas carnes sinuosas, do seu cheiro cítrico e tépido e úmido. Não briga mais com nada disso. Tampouco briga com a tradição torta que gerou esses e outros tabus. Aos 30, na verdade, ela quer brigar o menos possível. Está muito mais interessada em absorver do mundo o que lhe parecer justo e útil, ignorar o que for feio e baixo astral e ser feliz o máximo que der. Se o seu homem não gostar dela do jeito que ela é, que vá procurar outro bigodudo para dançar no escurinho da sala de um flat ao som de George Michael. Uma mulher de 30 só quer quem a mereça.
Aos 30, ela sabe se vestir. Domina a arte de valorizar as partes do corpo que lhes são pontos fortes e de tornar discretas aquelas que não interessa tanto mostrar. Melhora muito a qualidade da sua escolha de sapatos e acessórios, tecidos e decotes, cores e combinações, maquiagem e corte de cabelos. A mulher de 30 só vai na boa. Gasta mais, porque tem mais dinheiro, mas, sobretudo, gasta melhor. Tem gestos mais delicados, posturas mais elegantes, é mais graciosa e temperada. O senso de propriedade e a noção de limites de uma mulher de 30 não têm termo de comparação com outra de 20. Aos 30 ela carrega um olhar muito mais matador - quando interessa matar. E que finge indiferença com muito mais competência - quando interessa repelir.
Aos 30, a mulher não é mais bobinha. (Com isso, é claro, contribui bem menos com a poluição sonora do mundo, com os torturantes decibéis que todos enfrentamos cotidianamente.) Não que fique menos inconstante. Mulher que é mulher se pudesse não vestia duas vezes a mesma roupa nem acordava dois dias seguidos com o mesmo humor. Mas aos 30 ela já sabe lidar melhor com esse aspecto peculiar da sua condição feminina. E poupa - exceto quando não lhe interessa poupar - o seu homem desses altos e baixos hormonais que aos 20 a transformavam, à sua revelia, tadinha dela e de quem estivesse por perto, em um autômato esquizofrênico, fora de controle e com aguçada propensão homicida.
Aos 20, a mulher tem espinhas. Aos 30, tem pintas. Encantadoras, perfumadas trilhas de pintas. Que só sabem mesmo onde terminam uns poucos e sortudos escolhidos. (Sim: aos 20 a mulher é escolhida. Aos 30, é ela quem escolhe. Aos 20, ela é comida por alguém. Aos 30, é ela que decide para quem dar. Etc.) Com 20 ela eventualmente veste calcinhas que não lhe favorecem. E as pendura no registro do chuveiro. Aos 30, usa lingeries escolhidas a dedo. Que, sempre surpreendentes e com altíssimo poder de fogo, o seu homem nunca sabe de onde saíram. Aos 20, ela pode ter o hálito cansado de quando em vez. Aos 30, jamais. É quando aprende a se perfumar na quantidade certa. E com a fragrância exata para a sua pele, para a temperatura do dia, para os tons da roupa que está usando. A mulher de 30, muito mais do que a de 20, cheira bem, dá gosto de olhar, captura os sentidos, provoca fome.
Aos 30, ela é mais natural, mais elegante, mais sábia, mais serena. Menos ansiosa, menos estabanada. Mesmo seus dentes parecem mais claros. Seus lábios, mais reluzentes. Sua saliva, mais potável. E o tom de sua pele, mais bem-acabado. O brilho de sua cútis aos 20 é só oleosidade, não apetece. Aos 30, é pura luminosidade e delícia. Aos 20, ela rói as unhas. E tem cutículas malcuidadas. Aos 30, constrói para si mãos plásticas, renascentistas, perfeitas. Desenvolve um toque macio e quente, que sabe ser a um só tempo firme e suave.
Ocorre o mesmo com seus pés. Aos 30, os pés de uma mulher atingem uma exatidão estética insuperável. São tão apetitosos quanto uma tenra espiga de milho verde com manteiga derretida por cima. Acontece alguma coisas nos seus cílios também. No desenho das sobrancelhas. No seu jeito de olhar. Fica tudo mais uterino, mais helênico, mais glamouroso, mais sexualmente arguto.
Aos 30, a mulher não faz mais experiências esdrúxulas. Quando ousa, no que quer que seja, costuma acertar em cheio. No jogo com os homens, já aprendeu a esgrimir no contra-ataque, construindo seus xeques-mates em silêncio. Quando dá o bote, é para liquidar a fatura. Ela sabe dominar seu parceiro sem que ele se sinta dominado. Mostra sua força na hora certa, de modo sutil. Não para exibir poder - mas exatamente para resolver tudo a seu favor antes de chegar ao ponto de precisar exibi-lo. Garante para si o que quer sem confrontos inúteis. E brinca com a sua pretensa fragilidade como uma ferramenta lúdica de prazer - seu e do seu homem. Sabiamente, goza de todas as prerrogativas da condição feminina sem ter que engolir nenhum sapo supostamente decorrente do fato de ser mulher.
Se você, leitora, anda preocupada porque não tem mais 20 anos - ou porque os têm mas já percebeu que eles não vão durar para sempre - fique tranqüila, deixe de bobagem, desencane. Saiba que é precisamente aos 30 que o jogo começa a ficar bom.