segunda-feira, 31 de março de 2014

Os 30 são os novos 20 (que pena) - por Renato Essenfelder

– Os 30 anos são os novos 20.


A afirmação veio em tom de celebração. Uma amiga tentava consolar a outra, cuja estréia no tempo das balzaquianas se aproximava.


A aniversariante estava deprimida. Poxa, 30 anos? E agora? Só ladeira abaixo. E pior: eu ainda não tenho casa não tenho carro não tenho namorado não tenho tanta coisa que, com 20, imaginava que teria.


– Calma. Os 30 são os novos 20 – a amiga insistia.


Que pena, eu pensei. Com isso ela queria dizer, é claro, que a moça ainda era muito jovem e ainda aproveitaria muito a vida. Ainda havia tempo para baladas, para flertes e namoros, para shows, para viagens; para ser irresponsável havia tempo. Para tudo haveria tempo. Para amar e para brincar.


A moça estava cheia das melhores intenções ao tentar acalmar a amiga. Dizia a verdade: haverá, aos 30 anos ainda, tempo para semear e tempo para colher.


Mas para mim não pareceu o melhor dos conselhos. Confesso que, se me dissessem que “os 30 anos são os novos 20″, ali nos idos de 2010, quando fiz a temida passagem, eu entraria em pânico.


Não havia muita coisa dos 20 anos que eu queria reviver.   


Esclareço. Meus 20 anos foram muito bons, como os de tantos, com sua mistura de aflições e liberdades. Mas ter 30 anos é muito melhor do que ter 20, e, finda aquela década, eu não esperava revivê-la.


Me enfadam as vítimas da síndrome de Peter Pan. [E são cada vez mais comuns.] Indo e vindo da Terra do Nunca, onde nunca envelhecem, nunca se aborrecem por mais de um dia, nunca são aborrecidos pelos constrangimentos da coerência. Não vivem no presente eterno, como alardeiam – como eu mesmo gostaria de poder viver, porque além e aquém do presente só existem ilusões. Vivem, sim, uma espécie de pseudopassado eterno, um simulacro do que poderiam ter sido – mas não foram. Correm atrás do próprio rabo imaginário: nunca foram o que acham que foram, nunca mais serão.


A história se repete como farsa, alguém declarou. Viver os 20 anos aos 30 é apenas isto: uma farsa.  


O conselho me daria pânico porque eu, aos 33 anos, não conheço idade melhor do que esta. Não posso falar por mais ninguém nem nunca tive 40 ou 50 anos, mas aos 30 fui adquirindo mais maturidade para dizer não, para escolher melhor como investir o meu tempo – as minhas companhias, passeios, quimeras e desafios.


Eu gostaria que me dissessem que os 30 são os novos 30, que os 40 são os novos 40 e assim por diante. Que me dissessem que é possível viver exatamente  a idade que você tem e ser pleno, sem precisar se escorar em ilusões.


Conheço melhor a mim mesmo hoje do que há 10 anos, e isso faz muita diferença na hora de decidir entre casar ou comprar uma biblioteca. Tenho mais segurança no que faço, e entendo melhor por que fracasso. Não me abato mais tanto; já li tantas vezes Não se mate, oh, não se mate que não penso em me matar. Que ridículo seria.


Entendo mais de poesia. 


[Mas não o suficiente. Não entendo o suficiente e estou simpático ao mistério dos gorjeios, sempre.]


De resto, tenho a mesma boa disposição dos 20. E tenho mais dinheiro e independência para percorrer pequenos desvios. Conheço mais atalhos. Aprendi as ciências do corpo. [Seguindo ainda sob fascínios e descobertas.] Tenho amigos leais para a caminhada. Já seguraram a minha barra. Retribuí.


Tudo isso ao preço de mais responsabilidades; trabalho; paternidade. As costas doem. Os joelhos estralam insistentemente. Nunca me sobra muito tempo. Nada de sonecas pela tarde. Há muitos boletos a pagar. As contas chegam incessantemente:


pelo vão da porta,


pelo desvio da coluna,


pelas queixas dos vizinhos.


Pago-as todas, não me furto. Sigo sorrindo.


É um preço pequeno a pagar.   




Texto publicado dia 24 de março de 2014, no site do Estadão, blog do Renato Essenfelder.

domingo, 30 de março de 2014

Especial Portugal : Alentejo, Spa Caudalíe e mais

No final do ano passado fizemos uma viagem inspiradora à Portugal. Foi nossa primeira vez nesse país encantador, de pessoas acolhedoras, de lugares maravilhosos, vinhos soberbos e comidas fantásticas. Me faltam adjetivos para descrever esse país lindo, que nos faz sentir em casa. Tudo nos dá a sensação de ser muito familiar. Parecia às vezes que nem tínhamos saído do Brasil se não fosse o sotaque nos lembrar que na verdade estamos do outro lado do Atlântico. A partir daí começamos a entender de onde herdamos tantas coisas aqui no Brasil.

Nossa viagem durou 15 dias. Chegamos em Lisboa, fomos para a região do Alentejo e depois subimos até o Porto de carro, fazendo paradas em Nazaré, Coimbra e por último na região do Douro. Ficamos no total 6 hotéis, fizemos refeições incríveis, visitamos lugares lindos. Me deliciei nos vinhos do Alentejo e Douro, sobretudo naqueles que os preços seriam proibitivos aqui no Brasil. Me entreguei sem culpa aos doces conventuais e me aprofundei sobre o vinho do Porto. Voltei apaixonada pela raiz de nossa cultura e com muito material para compartilhar aqui no blog sobre essas experiências.

O post de hoje será sobre nossa estadia na região do Alentejo. Pesquisei muito sobre onde ficar (adoro pesquisar hotéis) e descobri esse hotel chamado L'And localizado na cidade de Montemor-o-Novo, onde há quartos com Sky View - um teto solar em cima da cama para ver as estrelas à noite, o restaurante tem uma estrela Michelin e o spa é Caudalie. Parecia o lugar perfeito para passarmos o Natal. E realmente foi.

Chegamos à noite no hotel e mal dava para perceber o cenário e os arredores do Hotel. O dia estava frio e chuvoso e a recepção estava iluminada com uma larga e moderna lareira, com tapete e poltronas de couro. Fomos levados ao nosso quarto, um dos apenas 22 do hotel.

O quarto é maravilhoso e gigantesco, com uma sala ampla e aconchegante, decorado com muita madeira e pedra. O banheiro super moderno, muito amplo, com uma banheira de pedra ardósia gigante. Ainda tinha saída para um deck privado com uma pequena jacuzzi e uma grande poltrona, que não conseguimos aproveitar por causa do frio e da chuva. Aliás o tempo nessa época estava super volátil. Ia de chuva a céu azul e vice-versa em poucos minutos!

Teto do quarto "Sky View"



No dia seguinte ao acordar a surpresa de olhar ao redor : a arquitetura moderna do prédio principal, lago, piscina, plantações de uva em frente quarto, um clima frio e propenso para muito vinho e aquela sensação gostosa que as férias estavam apenas começando.

Alentejo
Vista do quarto: prédio principal e plantação de uvas

Vista do restaurante, com os quartos ao fundo

O restaurante

O menu de Consoada (como os portugueses chamam a ceia de Natal) foi todo preparado pelo chef estrelado Miguel Laffan e cada prato tinha seu vinho harmonizado. Aliás um dos vinhos era produzido pelo próprio hotel. Como um comentário a parte, o L'And também vende propriedades, e os felizes moradores tem 1 hectare para plantar a uva de sua preferência. O empreendimento se encarrega de fazer o vinho (os fermentadores ficam dentro do hotel). Os proprietários têm direito a usar as dependências do hotel e tem descontos nos serviços de restaurante e spa.. Mas, voltando à ceia, tudo estava perfeito, com destaque ao Veloute de grão de bico com lascas bacalhau e uma gema de ovo molinha por cima.


Menu da noite de Natal

Bacalhau maravilhoso


E agora a parte que mais agrada a nós mulheres……. o Spa!


Piscina com fundo preto para sensação de profundidade

Os tratamentos e massagens do Spa eram exclusivos Caudalíe, marca francesa que se inspira nos vinhos e nas uvas. Como era Natal, me dei de presente uma esfoliação com sementes de uvas cabernet seguida de massagem com o Huile Divine, um óleo com um dos cheiros mais gostosos que já senti.


Recepção do Spa


Gostei tanto dos produtos (nos quartos eles deixam miniaturas e no banheiro do Spa um cestinho com muuuuuitas amostras à vontade), que trouxe alguns pra casa. A necessaire foi presente de Natal do hotel com a linha Premier Cru (presentaaaço!). Eu indiquei na foto os produtos que tenho mais usado. O primeiro é o Vinoperfect, um serum antimanchas, tem uma consistência ótima e duas gotinhas são suficientes para espalhar no rosto todo. É o grande best-seller mundial da marca. E o óleo divino (Huile Divine) que dá pra usar como hidratante e também nas pontinhas do cabelo. Honestamente queria um perfume com esse cheiro… é bom demais, sofisticado, suave, delicioso!