quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Gastronomia: o novíssimo ICI Brasserie

Fim de semana passado eu fui conhecer o novo ICI Brasserie, que abriu há pouco mais de uma semana no shopping JK Iguatemi em São Paulo. Ele é primo do ICI Bistro de Higienópolis, mas carrega uma alma mais jovem, moderna, alegre e vibrante. Um lugar  especializado em cervejas e com um cardápio de comidas super enxuto (que serve como um despojado jogo americano), com poucas mas excelentes opções, entre elas alguns pratos do primo ICI Bistro que são certeza de sucesso.

O problema de ir visitar um restaurante recém-aberto é que se o serviço é ruim, você não tem certeza se é falta de prática da equipe e é uma questão de tempo para adquirirem a experiência, ou se é mesmo falta de treinamento e supervisão e o serviço ruim é irremediável. Eu evito ir em lugares recém-inaugurados pra evitar uma primeira impressão ruim, mas dessa vez não me aguentei. Tínhamos ido caminhar no Parque do Povo ao lado do shopping, e estávamos morrendo de fome. Era a ocasião perfeita para ir comer ali pertinho.  Eram 4 da tarde do Domingo, o restaurante estava com pouquissimas mesas ocupadas. Ficamos esperando uns 20 minutos para alguém nos trazer o cardápio, e isso é uma eternidade para quem já está fagocitando seu próprio estômago. Um garçom de nacionalidade portuguesa notou depois de algum tempo a nossa presença, e disse que já voltaria para nos atender, mas estava ocupado demais usando seu sotaque lusitano para impressionar uma outra mesa ao nosso lado com dois casais super engomadinhos; os caras de cabelo lambido pra trás e com um bronzeado caribenho, com suas camisas de grife para fora da bermuda de grife e seus sapatinhos de grife que devem ter acabado pisar no acelerador de um carro importado, e as meninas enjoadinhas, perguntando o que era Bouef Bourguignon.... Eu estava de tênis e roupa de caminhada, meu rabo de cavalo meio torto e os cabelinhos que estão nascendo meio arrepiados. Ou seja, nada arrumada.... Me perguntei se era por isso a falta de atenção para nossa mesa (era o que me faltava ter que me emperequetar para ir comer no Shopping!) Me lembrei de Ruth Reichl, que foi uma das grandes e icônicas críticas gastronômicas do New York Times, e que sentiu na pele a diferença de tratamento que era dada nos restaurantes quando ela ia disfarçada de "gente normal", com peruca, roupas e maquiagens para não ser reconhecida. Quando voltava aos restaurantes como a própria Ruth Reichl, acabava tendo um tratamento bem diferente, disparadamente mais atencioso e cordial. Essa diferença de tratamento a fez ceifar em suas críticas algumas estrelas dos restaurantes que não a tratavam bem quando ela ia disfarçada.



Mas a expectativa de comer de novo o Atum Mi Cuit, que já havia comido no ICI Bistro como crítica pelo Estadão, e que inclusive acabou sendo o ganhador do prêmio Paladar na categoria do "Mar", me fez relevar o serviço lento e pelo jeito seletivo. Meu marido pediu de entrada um Steak Tartare, e estava muito saboroso, mas não sou muito fã de carne crua... De prato principal ele pediu um Shepherd's Pie, que a garçonete descreveu como um "escondidinho de vitela e cordeiro", e que veio servido numa charmosa panelinha bem quente e com uma crosta dourada de purê linda. Roubei uma garfada e estava delicioso.

Mas a minha boca salivava mesmo pelo meu atum, e estava tão maravilhoso quanto a primeira vez que o comi. Três fatias grossas de atum, brilhosas e de cor rubi, rapida e simetricamente seladas de cada lado, com crosta de gergelim, acompanhada de um molho de gengibre muito suave. É servido por cima de um purê de batatas temperado com wasabi que o deixa picante na medida perfeita e derrete na boca junto com a fatia de peixe. É daquele tipo de prato que a cada garfada, os ombros relaxam pra frente junto de um suspiro de prazer, os olhos se fecham e você se entrega ao prato. Está na minha lista de um dos melhores pratos que já comi em São Paulo.



2 comentários: