segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Padoca by Ricardo Carvalho


A inspiração para escrever sobre o universo da comida está presente também em outros membros da minha família: não é uma paixão exclusiva minha. Meu marido escreveu o texto abaixo e eu simplesmente tinha que publicar porque achei genial, sincero e bonito demais para ficar arquivado em alguma pasta do Word e sem ser lido pelo resto do mundo que compartilha o mesmo apreço pelas coisas simples mas boas da vida.

Com vocês, A PADOCA
por Ricardo Carvalho


Onde eu trabalho existe uma porção de restaurantes e cafés no piso térreo. Hoje foi o nosso último dia naquele prédio, e dediquei meu último café da manhã na “padoca”. Sim, pra mim ela é chamada apenas de padoca. Posso garantir que para muitos. Ela possui seu nome próprio, é claro, mas acredito que ninguém lembra. Ela é simples demais para isso. Lembra posto de beira de estrada, balcão tipo ilha onde os funcionários atendem em 360 graus os clientes que ficam em pé. Há muito o que comparar com outros tipos de cafés. Pra começar o nome. Todos se lembram da casa do pão de queijo, do Starbucks, da Copenhagem, todos nomes com pedigree. Mas a padoca não precisa de nome. Já tem o nome mais carinhoso de todos. Lá, não se toma mocca, machiatto, curto... lá se pede uma média. Pão na chapa. Quer incrementar, pede pão na chapa com requeijão. Sem chance para sanduíche de rosbife australiano, sem chance pra brownie. Lá tem nega maluca. A padoca tem a equipe mais feliz que já vi trabalhando. É um exemplo de comunicação em equipe. Ninguém anota o pedido, é tudo no berro. Você pede um suco de “banana, abacaxi, morango no suco de laranja” e o atendente grita (muitas vezes sem nem olhar pra trás), de maneira que a pessoa que vai fazer o suco filtra todo o barulho do local e vai anotando – também mentalmente – o próximo pedido. Há um “line-up” de sucos, vitaminas, sanduíches. Quando prontos, ninguém fala com ninguém lá dentro da ilha, quem pediu vai buscando, vai servindo, e você não vê ninguém insatisfeito ou esperando. No Starbucks, na casa do pão de queijo, é diferente. Cada pedido é anotado, há nota fiscal, escrevem o seu nome em caneta à prova d’água, há um sequenciamento lógico. Não me julguem mal nesse ponto do texto. Eu adoro o Starbucks e a casa do pão de queijo, e todos os outros. Estou apenas comparando e também elevando a padoca à posição de liderança global em eficiência de padarias/cafés/bistrôs/afins. A padoca tem alto giro. Tudo é fresco, tudo é barato, tudo vem com um sorriso. Quando acaba o pão de queijo, acabou. Simples assim. Mas tem muitas outras opções. Agora vem talvez um dos aspectos mais intrigantes e de sucesso absoluto da padoca. Ninguém anota o pedido de ninguém. Você consome, chega no caixa e conta o que consumiu. Vou repetir. Você CONTA o que consumiu. O caixa calcula, você paga e vai embora. Simples, na base da confiança, sem sistema, sem erros na comanda, sem garçom ruim deixando de anotar nada. Posso apostar meu próprio dinheiro que a inadimplência é menor que qualquer outro estabelecimento. É um ato de confiança no consumidor, e consumidor que ganha confiança não trai. Gosto de ver a padoca cheia. Ela respira trabalhador, povo simples, que gosta de comida boa, barata, sem frescura. Se você receber um estrangeiro, leve-o à padoca. Mostre à ele como é que o Brasil faz. Na padoca não toca jazz. Passa Bom Dia Brasil, os gols de ontem, o trânsito de agora. Desejo todo o sucesso para todos os cafés citados e não citados aqui. Haverá sempre alguém querendo pagar mais caro, querendo ouvir jazz e comer um maravilhoso sanduíche australiano. Mas posso garantir que a padoca, enquanto existir, vai estar lotada de gente da abertura ao fechamento.

Abraços.

P.S.: lá também tem sofisticação, acabei de lembrar que o ketchup e a mostarda são da Heinz! Sem refil falso.


Nota da esposa: Para quem ficou curioso(a), a Padoca fica no CENESP (Centro Empresarial de São Paulo). Também desconheço o nome real do estabelecimento!

Um comentário:

  1. Desnecessário dizer que amei o texto, ne? Me lembrou os lanches depois da escola, onde tomar uma wimi e comer uma coxinha era a melhor refeição do mundo...e a vida não é mais gostosa com as coisas simples da vida? Viva a padoca!!!! bjs

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